sábado, 29 de dezembro de 2007

Tribunal do Santo Ofício

Sobre Pedro Moraleida


"Tomei meu último expresso.
Mais gozar: gozo do outro: suicida
Místico-louco"

A morte como o último gozo. A vida como o efêmero instante que antecede o apocalipse. Essas são as premissas do intenso e apaixonante trabalho do poeta e artista plástico Pedro Moraleida. Dotado de uma agressividade ora irônica, ora divertida, Pedro Moraleida jorrou arte intensamente durante sua breve vida. Nascido em Belo Horizonte e formado em Belas Artes pela Universiade Federal de Minas Gerais, esse artista possui uma obra muito singular, marcada por um forte questionamento da existência e dos paradigmas da arte e da cultura através da concepção do prazer (hedonismo) ou da recusa desse (símbolo da castração freudiana) e da assimilação do fim/morte/apocalipse iminente com o sexo, o orgasmo, o êxtase final que consome e liberta. Dentro da sua obra literária, destacam-se: "Pequena revelação acerca da arte hoje ou O artista deve ser um primata" e "Os 4 'conceitos' fundamentais do 'meu trabalho' ou O conceito fala por si mesmo o que não se pode falar deve-se calar". Como característica de sua verve, Pedro Moraleida escrevia seus textos empregando um alfabeto próprio, composto por um grupo léxico e tipográfico incisivo, de signos pontiagudos e extremamente angulares, revelando um personalidade inquieta e marcante. No campo das ilustrações, figuras druídicas como alegoria do comportamento humano e seres mitológicos fundidos a pessoas e a animais da simbologia bíblica, ora envolvidos por um tênue atmosfera pueril, ora compostos sob densos estratos de pornografia, expressavam o turbilhão de idéias que enchiam o imaginário artístico de Pedro Moraleida, sempre permeado pelo questionamento da função do artista enquanto assim o é, o papel da palavra como instrumento de arte e a fugacidade da vida e do prazer ante a iminência do apocalipse e a suposto conceito de salvação/condenação.
Pedro Moraleida se suicidou em 1999, aos 22 anos. A vida breve desse artista plástico belo-horizontino não o impediu de construir uma rica narrativa visual, quase como uma necessidade urgente de colocar para fora suas aflições, conflitos e a maneira como via o mundo. Embora conheça sua arte como mero admirador e, sendo assim, inapto a tecer comentários profundos e analíticos sobre ela, reconheço a maestria e ousada subjetividade de Pedro Moraleida, pondo-o como ícone de uma geração que infelizmente sonha amordaçada.










Para conhecer a obra de Pedro Moraleida, acesse: + http://www.cave.cave.nom.br/

Metalinguagem da forca

aparência (do Lat. apparentia).s. f., : aspecto; forma; figura; exterioridade; probabilidade; verosimilhança; sinal; vestígio; sintoma; ilusão; quimera; disfarce; contradição da essência; projeção inadequada de desejos intrínsecos ao indivíduo; simbiose de frustração pessoal com vontade de aceitação social; equívoco; falácia; incompatibilidade de egos.


NÃO à transposição do rio São Francisco. Viva a Inquisição da resistência.

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